Nº 28
Dezembro - 2013

INFORMATIVO MENSAL DE RESPONSABILIDADE DA JOBSERVICE

"Ele pode dar o sustento do dia a dia, o sentido para a vida ou equilibrar as jornadas. o trabalho significa muitas coisas. E só você pode saber qual o papel dele em sua existência.
Bruna Flores era aquele tipo de criança que, desde pequena, sabia o que ia ser quando crescesse. “Tinha o sonho de ser uma grande repórter, correspondente internacional, e explorar o mundo pela profissão”, conta a gaúcha de 29 anos. Na hora do vestibular, claro, entrou na faculdade de jornalismo.
E foi lá, entre uma aula e outra, que Bruna percebeu que podia estar errada. “Quando os professores falavam sobre a rotina profissional, que seríamos ‘jornalistas 24 horas’, eu desconfiava que, no fundo, não era bem isso que eu queria”, diz. Depois de formada, vivia uma rotina sem horários fixos, com salário baixo e sem um plano de carreira. Teve a certeza de que o jornalismo não era a profissão que tanto queria. Na época, com casamento marcado e planos de ter filhos, ela desejava um trabalho que lhe desse estabilidade para viver o dia a dia em família. “Fui amadurecendo e percebi que meu sonho de vida era mais prático: uma boa casa, alguém para dividir a vida comigo, filhos e um salário que me garantisse viver bem”, diz.
Foi assim que, em 2006, dois anos depois de formada em jornalismo, Bruna tornou-se não uma apresentadora de sucesso, mas uma funcionária pública, caixa de um banco. Para ela, isso significou uma vida tranquila perto do marido e dos filhos. “Descobri que existe vida fora da profissão. Que eu posso trabalhar seis horas do dia e aproveitar as outras dezoito para mim. Tive dois filhos, aprendi a cozinhar, faço academia”, conta.

Trabalhar é viver

"Bruna escolheu um serviço que lhe deu segurança e paz para ficar com quem ama. Sua opção mostra que não é preciso viver para trabalhar, um problema generalizado hoje em dia. “Precisamos rever a vida vivida para o trabalho”, aponta Lívia Moraes, professora de sociologia do trabalho da Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Vale a pena batalhar tanto, chegar em casa exausto e não poder aproveitar os frutos desse esforço?”, pergunta. A questão, que martela muitas cabeças, na verdade é consequência da reflexão fundamental: afinal, para que você trabalha?
Pelo dinheiro no fim do mês, é claro. Mas não só. Trabalhar é uma necessidade humana – com diferentes significados em cada época da história. Colher um alimento para comer ou construir uma ferramenta de caça já eram trabalhos. Por ter essa característica original de uso de força física, na Antiguidade gregos e romanos achavam ter emprego um ultraje – tanto que a palavra trabalho vem do latim tripalium, um instrumento de tortura. A dignidade estava em se libertar do peso da sobrevivência para se dedicar a questões elevadas, como atividades intelectuais. Trabalhar, na época, era coisa para escravos.
A Reforma Protestante, no século 16, mudou um pouco essa perspectiva. A visão religiosa encontrava no trabalho um modo de cansar o corpo, que, assim, ficava sem tempo para tentações – vem daí a ideia de que o trabalho dignifica o homem. Mas foi só a Revolução Industrial, tempos depois, que começou a dar ao nosso dia a dia profissional sua atual característica positiva. O capitalismo mostrou que, por meio de atividades remuneradas, podemos conquistar coisas e nos destacar entre as pessoas. Para completar, o fim do século 20 chegou dizendo que esse mesmo trabalho que nos oferece poder de consumo também deveria trazer felicidade. Afinal, se vamos nos dedicar tanto a uma ocupação, é justo que busquemos nela uma motivação mais afetiva – ou seja, um propósito maior que só pagar contas.
Esse sentido, que vem fazendo muita gente repensar sua relação com o ofício, pode ser ter mais tempo para a família – como aconteceu com a Bruna. Como pode ser usar um talento naquilo que se ama fazer, construir algo que se torne um legado... Qualquer que seja o propósito, o trabalho deixou de ser apenas uma função prática para tornar-se parte do sentido que damos à própria vida – ou, ao menos, é isso que estamos buscando. Não significa trabalhar menos. Apenas que os sacrifícios e problemas são diminuídos diante da perspectiva de encontrar, na labuta de todos os dias, a nossa realização. "

Trabalhar também é amar o que se faz. Dedicar-se e ver sentido na profissão é muito importante para boas realizações.

"Para encontrar a satisfação profissional é preciso saber o que nos dá prazer"

Trabalhar é escolher.

"Encontrar a satisfação a partir do trabalho depende de autoconhecimento, de saber o que te dá prazer”, afirma a professora Yvette Piha Lehman, do departamento de psicologia social e do trabalho da Universidade de São Paulo (USP).
Para a especialista, trabalhar é o eixo que nos dá autonomia. Porém, nossa relação com o trabalho jamais será satisfatória enquanto não encontrarmos um sentido para realizá-lo. A novidade é que, hoje, podemos escolher qual será esse significado. Trabalhar pode ter sentidos tão diferentes quanto ser a atividade que nos oferece recursos materiais, que define a identidade ou que nos traz felicidade, entre muitas outras opções. E se, há poucos anos, esse serviço era como um casamento, mantido por toda a vida, agora vivemos mais tempo, com mais saúde, e ganhamos a alternativa de não manter esse compromisso para sempre. Temos a liberdade de fazer várias escolhas profissionais, que tenham a ver conosco durante as etapas da vida.

Trabalhar é ter equilíbrio em todas os aspectos de nossa vida e as escolhas podem nos dar este equilíbrio.
“Se há uma felicidade possível no trabalho, ela depende de que essa atividade seja a fonte de satisfação, e não um mero meio para obter recursos para satisfações posteriores”, afirma Adriano Correia, diretor da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Goiás.
O trabalho se torna então uma fonte de realização pessoal dando prazer, equilíbrio e felicidade para cada um de nós. Pois, como diz a música," a gente não quer só trabalho ..."

Texto: compacto do texto de Jéssica Martineli

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