Nº 42
Fevereiro - 2015

INFORMATIVO MENSAL DE RESPONSABILIDADE DA JOBSERVICE



Drummond, o poeta que decifrou os Beatles.

Carlos de Oliveira - Estadão - 10 janeiro 2015.

Em março de 1969, os editores da extinta revista Realidade tiveram a feliz ideia de convidar o poeta Carlos Drummond de Andrade e lhe propor uma tarefa inusitada: traduzir seis músicas do então recém-lançado “Álbum Branco”, dos Beatles. O resultado da empreitada saiu melhor do que a encomenda. Drummond deu graça e estilo a letras de John Lennon, Paul McCartney e George Harrison.

O poeta Carlos Drummond de Andrade, que traduziu seis músicas do Álbum Branco, dos Beatles, para a revista Realidade, em março de 1969.

Março de 1969. Quatro meses antes, os Beatles haviam lançado o Álbum Branco, que, como sempre acontecia naqueles tempos, chegava atrasado ao Brasil. Era o sucessor do Sargento Pimenta. Tinha de ser tão bom quanto. Nas emissoras de rádio, apresentadores falavam, entre surpresos e chocados, que uma das músicas seria pornográfica: ” Por que não fazemos aqui na estrada? Ninguém vai nos ver”. Outros diziam que, assim como no Pimenta, havia músicas falando sobre drogas…e assim por diante. O que havia de verdade nisso tudo? Alguém precisaria resolver mais esse mistério que cercava os Beatles.

Pena leve - Foi então que os editores da saudosa revista Realidade, que circulou mensalmente por dez anos, entre 1966 e 1976, teve a mãe de todas as ideias: mergulhar nas letras do novo álbum e explicá-las. Para essa empreitada era preciso alguém de pena leve, elegante, especial, insuspeito. E convidaram um dos maiores poetas brasileiros, para muitos o maior, para traduzir seis músicas. E lá foi Carlos Drummond de Andrade decifrar os Beatles.

                           “Blackbird”, que na tradução de Drummond virou Melro.

Acompanhe ...

A tradução de Obladi Oblada é singela e guarda a alegria que a letra original quer passar, com os personagens Desmond e Molly se alternando entre cantar numa banda e se embelezar em casa:

Obladi Oblada

Desmond has a barrow in the market place
Molly is the singer in a band
Desmond says to Molly — girl I like your face
And Molly says this as she takes him by the hand
Ob-la-di ob-la-da life goes on bra
La-la how the life goes on
Ob-la-di ob-la-da life goes on bra
Lala how the life goes on
Desmond takes a trolley to the jewellers store
Buys a twenty carat golden ring
Takes it back to Molly waiting at the door
And as he gives it to her she begins to sing
In a couple of years they have built
A home sweet home
With a couple of kids running in the yard
Of Desmond and Molly Jones
Happy ever after in the market place
Desmond lets the children lend a hand
Molly stays at home and does her pretty face
And in the evening she still sings it with the band
Happy ever after in the market place
Molly lets the children lend a hand
Desmond stays at home and does his pretty face
And in the evening she still sings it with the band
And if you want some fun…
Take Obladi oblada.
                    Obladi Oblada

Desmond tem um carrinho na Praça do Mercado.
Molly vocaliza num conjunto.
Desmond diz a Molly: Por teu rosto sou vidrado
Molly diz-lhe: O quê? E pega-lhe na mão.
Obladi, obladá, a vida continua: Olá,
olalá, como a vida continua!
Obladi, obladá, a vida continua… Olá,
olalá, como a vida continua!
Desmond toma o ônibus, vai à joalheria
compra anel de ouro de ofuscar
e leva-o a Molly, que espera junto à porta.
De anel no dedo, eis Molly a cantar.
Em um par de anos terão construído
um lar bacana doce que nem cana.
Um par de garotos corre pelo pátio
desse casal unido.
Olha Desmond feliz na Praça do Mercado.
Ao lado, os molequinhos ajudando.
Molly ficou em casa se enfeitando
e à noite ainda canta no conjunto.
Olha Molly feliz na Praça do Mercado.
Ao lado, os molequinhos ajudando.
Desmond ficou em casa se enfeitando
e à noite ela ainda canta no conjunto.
E se querem se divertir, obladi, obladá!













               


A despojada e melódica Blackbird gravada por Paul McCartney acompanhado por apenas um violão e a marcação de um metrônomo, ganhou contornos de esperança na tradução de Drummond:

Blackbird

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise.
Blackbird singing in the dead of night
Take these sunken eyes and learn to see
All your life
You were only waiting for this moment to be free.
Blackbird fly, Blackbird fly
Into the light of the dark black night.
Blackbird fly, Blackbird fly
Into the light of the dark black night.
Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise
You were only waiting for this moment to arise
You were only waiting for this to arise.
                    Melro

Melro que cantas no morrer da noite.
com estas asas rotas aprende teu voo
A vida toda esperaste a hora e a vez de teu voo.
Melro que cantas no morrer da noite,
com estes olhos fundos aprende a ver
A vida toda
hora e a vez de ser livre.
Voa, melro, voa, melro,
para o clarão da escura noite.
Voa, melro, voa, melro,
para o clarão da escura noite.
Melro que cantas no morrer da noite,
com estas asas rotas aprende teu voo
A vida toda
esperaste a hora e a vez de teu voo
esperaste a hora e a vez de teu voo
esperaste a hora e a vez de teu voo.



Veja o artigo completo: http://cultura.estadao.com.br/blogs/sonoridades/drummond-o-poeta-que-decifrou-os-beatles/
Veja as outras notícias